A Chave
Rebobinei a história depois de ler o José Carlos Fernandes dias atrás. A Chave fez um bootleg a partir de um pirata da própria banda. O disco apareceu em uma feira de colecionadores de discos antigos em São Paulo. A Vinyl Club estava lá, de onde trouxe uma cópia do cd e deu para um dos ex-integrantes da banda. A Vinyl Club, loja indispensável para quem ainda ouve os velhos, bons e valorizados bolachões, fica ali na Ébano Pereira, naquela galeria ao lado da Savarin, esquina com a Cruz Machado. Se você tem menos de 35 anos anos, dileto leitor, não está entendendo nada, suponho – mas a história é boa, garanto.
O jornalista da Gazeta e alguns blogs estavam falando mais ou menos o seguinte: depois daquela cópia oferecida à banda, a própria A Chave tratou de fazer outras, com capa e tudo, que se esgotaram rapidamente. Segundo informações, uma segunda leva teve o mesmo fim, fazendo daquele bootleg uma raridade acessível a alguns poucos, entre os quais, infelizmente, não estou incluído. Diz-se que o conteúdo de A Chave – Ao Vivo – 1975, traz dez músicas e duas bônus tracks do único compacto lançado pela banda, em 77, pela GTA (Gravações Tupi Associadas), com Buraco no coração no lado A e Me provoque pra ver no B. Parece que é um ensaio da banda que alguém gravou, ninguém sabe quem. O fato é que 33 anos depois, A Chave pirateou o seu próprio pirata. Caso inédito. Nem Dylan, com todos os seus bootlegs tinha pensado nisso; ele optou por lançá-los oficialmente. Talvez A Chave devesse fazer o mesmo, porque na Curitiba dos anos setenta eles eram mais importantes do que Bob Dylan.
Você não pensou
No que pode ser
Que eu sou um cara duro
Que vai te aborrecer, ah, ah, ah...
...
Você com esse seu jeito, baby,
Vai desaparecer...
Pura, pura, pura, ah, ah...
Pura, pura, pura, ah, ah...
Esse seu jeito de pura...
É pura provocação...
Me provoque pra ver
Pura, pura, pura, ah, ah...
Pura, pura, pura, ah, ah…
(Me provoque pra ver, criação da banda e de Paulo Leminski)
A Chave foi a primeira banda de rock da cidade. Tente imaginar o que era Curitiba em 69, quando eles surgiram. Pense em quatro cabeludos tocando na Praça Espanha, no centro do atual Batel-Soho (?), em meados dos anos 70. Eu estava lá. Eu vi. Era o que tinha de mais transgressor por aqui, que atingia em cheio adolescentes como eu, acostumados a ouvir rock em discos e no rádio, mas não na Praça da Espanha.
A Chave tirava a gente do quarto e dos fones de ouvido para um contato direto com o rock, ao vivo. Rock de verdade, na nossa frente, com PAs ainda ruins, mas ninguém tinha dúvidas de que aquilo era rock – talvez a única possibilidade de estar em Curitiba e no mundo ao mesmo tempo.
O convite era irresistível:
ei, abra essa porta...
vamos virar de ponta-cabeça...
A Chave era Ivo Rodrigues no vocal, que também tocava harmônica; Paulinho Teixeira na guitarra e vocais, que fez algumas matérias comigo em Comunicação Social na Reitoria; Carlão Gaertner no baixo, que anos depois teve um programa de blues no rádio curitibano; e o português Orlando Azevedo na bateria, que viria a ser fotógrafo. É o line up clássico da banda, que foi até 79, com Paulo Leminski colaborando nas letras.
A Chave virou o Blindagem, com Ivo Rodrigues, Paulinho Teixeira e novos integrantes, mas não era a mesma coisa. É quase o mesmo Blindagem que gravou um DVD com a Orquestra Sinfônica do Paraná, sob a regência do maestro Oswaldo Sangiorgi.
o corvo....
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